Toada
Naquela choça junto à uma estrada
Velho carreiro a solidão curtia
Porque a boiada velha dos seus anos
Já não consegue mais puxar seus dias.
Mas na parede traz dependurada
Velho ferrão com que tocava os bois
Qual uma seta apontando o espaço
Lembrando o tempo bom que já se foi.
Todo o diploma de carreiro é seu ferrão
Dentro das páginas do livro do sertão.
De uma coisa lembra sem remorso
De nunca ter judiado os bois de carro
Só balançava o ferrão e os bois
Jamais deixaram atolar no barro.
Quem foi carreiro hoje passou ser boi
Porque a vida é pegou o ferrão
E pela estrada da saudade amarga
Vai ferroando o seu coração.
Ferrão de aço, vara de marfim,
Igual agulha que bordou no tempo
Toda uma vida de trabalho e luta
Que nunca teve reconhecimento.
Só ajudou enriquecer o patrão
E ele mesmo envelheceu sem nada
Mais mesmo assim ele tem orgulho
Por já ter sido o campeão da estrada.